Objetivo

Apesar de ser mais lembrado como terra das frondosas Araucárias, foi a árvore da erva mate que rendeu ao Paraná os recursos que alavancaram seu desenvolvimento. Ainda hoje tem relativa importância econômica e social, mesmo que seja quase ignorada por parcela significativa da população do estado. O mate, matéria prima do chimarrão e tererê, é genuinamente paranaense e não é a toa que um ramo de mate e outro de Araucária se abraçam na bandeira estadual. O Paraná, ainda hoje, possui as maiores reservas de erva mate nativa, que são as mais procuradas pelos apreciadores. Foram destas matas que saíram as maiores quantidades de mate para abastecer os grandes mercados consumidores como o Uruguai, a Argentina e o Rio Grande do Sul no século XIX e até meados do XX. Hoje o abastecimento incorpora produto de lavouras cultivadas onde o produto nativo é escasso.

Davi Carneiro, talvez o intelectual mais importante do Paraná, considerava o paranaense valente, porém modesto além da conta. É notório que as pessoas que ao longo do tempo adotaram o estado para viver e que portanto possuem raízes externas, ainda não encontraram uma identidade cultural local mais forte. Isto só acontecerá quando a história paranaense for mais conhecida, apreciada e repassada para as gerações mais novas. Não faltam bons livros e outras manifestações culturais e literárias que retratam o passado, mas nem sempre é fácil descobri-los. Pode ser mais difícil ainda encontrá-los, mas hoje as ferramentas informatizadas facilitam bastante as buscas em livrarias, sebos, bibliotecas, museus, arquivos públicos, etc, do material desejado.

O blog apresentará algumas das literaturas mais acessíveis (livros, reportagens e documentos) que retratam passagens interessantes e importantes da história paranaense, que é muito rica e vai muito além do que normalmente é aprendido na formação escolar.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Bento, o governador do centenário

O território do Paraná começou a ser cobiçado pelos vizinhos antes mesmo de sua emancipação. Quando os paulistas tiveram a certeza de que Curitiba, a quinta comarca de São Paulo seria promovida, providenciaram rapidamente uma reforma administrativa, transformando a quinta Comarca na décima, porem sem Cananéia e Iguape (*), garantindo assim um litoral maior para São Paulo e deixando uma pequena extensão ao Paraná. Depois foi a vez de Santa Catarina, por meio de subterfúgios jurídicos e políticos conseguir de forma não convencional ganhar o que hoje é o oeste catarinense, e que até então era paranaense. Mato Grosso tentou arrendar uma parte de área dentro da fronteira paranaense (ilha de Sete Quedas, no rio Paraná) para estrangeiros e teve que ser lembrado que estava negociando território alheio. A Argentina também reivindicou a posse de vasta região no sudoeste paranaense (Questão de Palmas), mas graças ao trabalho do Barão do Rio Branco não obteve êxito.

Mas foi o rio-grandense Getúlio Vargas que protagonizou a mais audaciosa partilha. Em 1943, com uma “canetada” criou o território do Iguaçu, tirando do Paraná e Santa Catarina uma grande parte da região Oeste em favor desta nova unidade federativa.

Não fosse a dedicação do deputado Bento Munhoz da Rocha, que na constituinte de 1946 trabalhou em favor do retorno desta área aos estados de origem, teria o Paraná perdido mais esta região. Só por isso já merece ser lembrado, mas foi depois governador do estado e ministro da agricultura, tendo feito trabalhos de destaque em sua gestão, como detalha as páginas do livro de sua biografia.

(*) Comarcas da Província de São Paulo: durante quase todo o século XVIII e boa parte do XIX a comarca de Paranaguá/Curitiba abrangia a região da futura província do Paraná mais Cananeia e Iguape. O decreto 142 de 10/05/1842 ratificou que ambos passaram para a sexta comarca de Santos. A lei 11 de 1852 (ou lei 437 de 11/07/1852) determinou nova composição (ano anterior ao da emancipação do Paraná). A quinta comarca de Curitiba/Paranaguá passou a ser a décima comarca e Cananeia e Iguape passaram a compor a nona comarca de Itapetininga.

 


Bento Munhoz da Rocha
Vanderlei Rebelo
Imprensa Oficial
2005