Objetivo

Apesar de ser mais lembrado como terra das frondosas Araucárias, foi a árvore da erva mate que rendeu ao Paraná os recursos que alavancaram seu desenvolvimento. Ainda hoje tem relativa importância econômica e social, mesmo que seja quase ignorada por parcela significativa da população do estado. O mate, matéria prima do chimarrão e tererê, é genuinamente paranaense e não é a toa que um ramo de mate e outro de Araucária se abraçam na bandeira estadual. O Paraná, ainda hoje, possui as maiores reservas de erva mate nativa, que são as mais procuradas pelos apreciadores. Foram destas matas que saíram as maiores quantidades de mate para abastecer os grandes mercados consumidores como o Uruguai, a Argentina e o Rio Grande do Sul no século XIX e até meados do XX. Hoje o abastecimento incorpora produto de lavouras cultivadas onde o produto nativo é escasso.

Davi Carneiro, talvez o intelectual mais importante do Paraná, considerava o paranaense valente, porém modesto além da conta. É notório que as pessoas que ao longo do tempo adotaram o estado para viver e que portanto possuem raízes externas, ainda não encontraram uma identidade cultural local mais forte. Isto só acontecerá quando a história paranaense for mais conhecida, apreciada e repassada para as gerações mais novas. Não faltam bons livros e outras manifestações culturais e literárias que retratam o passado, mas nem sempre é fácil descobri-los. Pode ser mais difícil ainda encontrá-los, mas hoje as ferramentas informatizadas facilitam bastante as buscas em livrarias, sebos, bibliotecas, museus, arquivos públicos, etc, do material desejado.

O blog apresentará algumas das literaturas mais acessíveis (livros, reportagens e documentos) que retratam passagens interessantes e importantes da história paranaense, que é muito rica e vai muito além do que normalmente é aprendido na formação escolar.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Cabeza de Vaca

Álvar Núñez Cabeza de Vaca faz parte da galeria de conquistadores espanhóis do século XVI. Ficou perdido na América do Norte entre 1527 e 1537 após o navio em que servia naufragar na costa da Flórida. Neste período de dez anos viajou a pé até o México onde se reencontrou com seus conterrâneos. Posteriormente voltou à Espanha e foi nomeado governador do Rio da Prata. Chegou na América do Sul em 1541 aportando em Cananéia e depois em Florianópolis, tomando posse destes locais para a coroa espanhola. De Santa Catarina separou-se de seu navio, encaminhando-o para Assunção via marítima e Rio da Prata e empreendeu uma épica viagem por terra com o mesmo destino final. De Florianópolis se dirigiu às terras paranaenses, passando pela serra do mar, região de Curitiba, campos gerais e seguindo em frente pelo caminho do Peabiru. Passou pelos rios Ivai e Piquiri e chegou as cataratas do rio Iguaçu. Atravessou a (hoje) fronteira e seguiu até Assunção, chegando lá em 1542 para governar.

Escreveu dois relatos destas aventuras, sendo o primeiro sobre o naufrágio e sobrevivência na América do Norte (Naufrágios) e o segundo sobre o período que esteve no Brasil e Paraguai e que abrange a viagem de sua tropa pelo interior do Paraná (Comentários). É um testemunho valioso numa época pioneira de lugares nunca antes visitados por europeus. Há notícias de duas expedições anteriores que teriam percorrido estes mesmos caminhos do Peabiru, mas são poucas as informações sobre elas. A primeira comandada por Aleixo Garcia em 1524 e a segunda por Pero Lobo, por ordem de Martin Afonso em 1531 (esta última foi dizimada pelos nativos). Estas expedições procuravam estabelecer uma rota para locais onde se acreditava haver riquezas minerais como ouro e prata na região dos Andes.

Curiosidade: Cabeza de Vaca é considerado o primeiro europeu a contemplar as cataratas do Iguaçu. Sua administração como governador parece entretanto não ter agradado os espanhóis fundadores da hoje capital Paraguaia. Após graves desavenças entre eles, Cabeza de Vaca foi levado de volta para a Espanha preso.

Naufrágios & Comentários - memórias
Álvar Núñez Cabeza de Vaca
L&PM Editores
1999